EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

afterthought...

Genevieve, morta e ainda perambulando entre os dois mundos, sentou à beira do riacho, bem perto da ponte. Observou os semblantes tristes e pesarosos de quem ali passava e concluiu que, apesar de morta, era mais feliz do que aquelas pessoas, pois havia morrido de amor.

Genevieve, dead and wandering between two worlds, sat on the river shore, close to the bridge. She kept watching the sad faces passing by and deduced that, even dead, she was happier than all those people, because she died for love...

(sim, ela morreu "de amor" e "por amor")

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

E o baú foi aberto... Foi tomada por um calor diferente... Naquele momento o mundo girou ao contrário até o tempo parar...
Com os olhos ainda fechados, tocou o que havia no interior do baú... E sem perceber, havia começado a colocar novas memórias dentro dele...

Adormeceu ali, debruçada na cama, com o baú aberto, um sorriso no rosto e um gosto doce na boca...

sábado, 24 de novembro de 2007

reflexão...

Como observadora, é difícil deixar alguns fatos passarem sem um breve comentário a respeito.
Algumas impressões minhas sobre os últimos meses de convivência em determinado grupo:

Durante alguns meses, observei a moça que falava muito bem sobre Marx. Não apenas sobre Marx, pois citava outros autores e pensadores durante as discussões travadas naquele grupo. Tão interessante que chegou a me impressionar. Admito que, pessoalmente, respeitei muito a questão intelectual ali envolvida (as características intelectuais me despertam grande interesse, mais do que outras). Mesmo que algo me dissesse, bem no fundo, que a realidade não era aquela, preferi acreditar que fosse (para o bem geral da comunidade), até porque não se deve julgar o produto pelo rótulo. Além do mais, já sabemos que rótulos servem apenas para nos ludibriar. Ou alguém realmente acredita no valor calórico estampado nas embalagens dos deliciosos biscoitos recheados?
Pois bem... Infelizmente, um comentário fora de propósito fez com que a imagem que havia construído a respeito da moça se desfizesse como uma estátua de sal em meio a um vendaval. Naquele instante, uma postura extremamente preconceituosa foi adotada. Fico imaginando o que Marx pensaria a respeito daquele comentário. Confesso que fiquei enjoada. E a ocasião me fez refletir.
Tenho medo. Tenho medo dos intelectuais (mais ainda dos pseudo-intelectuais). Tenho medo do preconceito. Tenho medo do caminho ao qual o conhecimento pode conduzir o homem. Há um certo dualismo envolvido nisso. Do mesmo modo que o conhecimento está formando grandes homens, justos e pensadores, está formando outros grandes e novos opressores. E isso me arrepia até a alma.

E por falar em Marx...

"Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência."

Talvez toda aquela conversa sobre "práxis" ontem tenha afetado minhas idéias... :)

(Desculpem, mas nem sempre haverá textos oníricos por aqui...)


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

equívoco...


Não. Nunca pretendi chocar as pessoas. O grande problema é a questão imposta sobre o que é socialmente aceitável ou politicamente correto. Talvez eu não seja politicamente correta.
Aliás, no dia em que eu resolver realmente chocar as pessoas, publicarei meu diário. Na íntegra.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

dito popular do dia...

"Não cuspa para o alto, minha filha. Inevitavelmente cairá bem no meio de sua testa."

lembranças (II)...

Os anos passaram e a pequena princesa apaixonada pela lua cresceu. Guardou por todos aqueles anos um baú de memórias de tempos felizes, memórias de quando deixou de ser menina e tornou-se mulher. Os anos trouxeram um brilho diferente em seu olhar e um tom de voz mais sereno, mas a impulsividade e o sorriso continuavam presentes, como marca da menina que sempre seria.
Às vezes, durante as noites insones, pegava o pequeno baú e colocava em seu colo, removendo a poeira e olhando a chave, mas sabia que ainda não era hora de abrí-lo. Precisava de tempo: tempo para conseguir tocar suas lembranças e fechar os olhos com um sorriso no rosto; tempo para entender que havia sido feliz como nunca; tempo para perder o medo de molhar os pés novamente no rio que corria do outro lado da ponte.
Assim a princesa passava seus dias.
Veio outra primavera. As manhãs eram ensolaradas, perfumadas e quentes. Os finais de tarde eram lilases e as noites, estreladas. Certa noite, com o chão do quarto iluminado pela lua, decidiu abrir o baú. De joelhos, colocou cuidadosamente o baú sobre seus lençóis e brincou com a chave por alguns momentos. Podia sentir o coração explodindo no peito... Fechou os olhos e virou a chave dourada que havia guardado por tantos anos...


quinta-feira, 15 de novembro de 2007

revenge...

Fim de tarde. Farejava o alimento de dentro do esconderijo escuro entre as rochas. Saiu de seu refúgio e caminhou sorrateiramente pela vegetação seca, à procura de outra pequena vítima. O apreço pela vida solitária fazia com que tivesse apenas companhias que satisfizessem suas necessidades temporariamente, e depois as matasse para que pudesse estar novamente só. E havia uma peculiaridade nos métodos do chacal: ele arrancava e devorava o coração das vítimas, deixando todo o resto intacto.
Caminhou durante horas sem encontrar a carcaça que lhe serviria de alimento. Passou por alguns corpos vivos e atraentes, mas naquela noite, especialmente naquela noite, não buscava algo vivo. Estava cansado demais para lutar. Buscava a felicidade furtiva de um banquete já servido.
Mas há dias em que o predador torna-se presa fácil... Nesses dias eu o observo... aguardando o momento certo...

Sometimes the disciple bites the master's hand.

"La seule chose d'insupportable, c'est que rien n'est insupportable"
[Arthur Rimbaud]


terça-feira, 13 de novembro de 2007

fragile...

Palavras são tão fáceis de serem proferidas quanto de serem esquecidas. Talvez o problema seja meu fetichismo exagerado por palavras. Não devo esperar que o mundo pense da mesma forma. Além disso, não costumo sentir medo. Há em mim uma certa aversão a medrosos. Talvez o problema seja essa minha ansiedade louca misturada à minha impulsividade exagerada, com um pouco dessa minha peculiar intensidade. Mas aprendi que com a mesma facilidade que as coisas vão, elas voltam. E em dias assim percebo toda a fragilidade ao redor. O que me assusta é que essa fragilidade não me afeta mais como antes. A superficialidade me causa enjôo. Tudo precisa de profundidade... do mínimo de profundidade que seja.

Por isso certa vez disse e continuarei repetindo: expectativas são nocivas.
Estou cansada. Principalmente porque minhas expectativas são sempre maiores do que os padrões aceitáveis. E ainda está para nascer alguém que consiga satisfazê-las.

maturidade...

A diferença básica entre o homem e a mulher é o tempo que eles levam para amadurecer. Por isso, a tendência natural é que a mulher busque um companheiro com pelo menos 15 anos a mais que ela. Relacionamentos com pessoas da mesma idade não costumam dar muito certo justamente por causa dessa diferença. Aos 30 anos, por exemplo, é muito difícil para uma mulher aturar as crises existenciais de um púbere de 15...

(Não fui eu quem disse, mas concordo plenamente com a teoria de Zélia)

Mesmo assim, devo dizer que para toda regra há exceções. Dos dois lados.



domingo, 11 de novembro de 2007

o céu...

"For the other half of the sky" [John Lennon, Woman]
(he got caught by love... the strange bug we just can't explain)

O céu ainda está incompleto. Preciso anoitecer dia e amanhecer noite. Quero eclipses diários, luas sempre cheias, estrelas infinitamente brilhantes. Quero dois sóis no meu céu. Quero pintá-lo com todas as cores da minha infinita paleta, com sonhos sem fim e felicidade constante.

E em tardes assim, mornas e azuis, deito e vejo uma infinidade de possibilidades olhando pela janela. Mas ainda não consigo dividir meu céu... talvez eu precise observá-lo sob um outro ponto de vista.

"Let's take a chance and fly away... somewhere... alone..."

(i got caught by passion... the damn burning passion...)

sábado, 10 de novembro de 2007

fábula...

Este texto foi postado por Baron Karnstein a Amnia Popescu dia desses...
Desconheço a autoria, mas confesso que me identifiquei com a princesa...

"Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, deparou-se com uma rã. Então, a rã pulou para o seu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei- me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o nosso jantar, lavarias as roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre... Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava... - Nem morta!"

Do i need to say more?!

a luz...

Marie acordou com batidas à porta. Pensou que estivesse sonhando, mas as batidas tornavam-se cada vez mais insistentes. Olhou para o relógio ao lado da cama e viu que passava das 3 da manhã. Era tarde - ou cedo - demais para uma visita. Levantou-se e, tateando as paredes, dirigiu-se à sala. Abriu a porta sem perguntar quem batia, e deparou-se com o corredor vazio e escuro, onde uma luz brilhava lá no fim... Mas o corredor parecia mais longo que o de costume. Marie resolveu seguir e ver o que havia no final dele. À medida que as portas passavam, sentia que deixava algo para trás, era como se cada uma daquelas portas fosse uma parte de sua vida, ou, talvez, algumas de suas escolhas.
Marie continuou andando, acelerando o passo, sentindo medo do escuro que a cercava, desejando alcançar a luz. Começou a ouvir sussurros e risadas pelo caminho, apavorada com o que poderia encontrar antes de chegar a seu destino. O corredor tornou-se uma câmara de horrores, e Marie cruzou fantasmas que ainda atormentavam seu sono, mas apertou os olhos e seguiu. Os medos e inseguranças tomaram forma e uivavam ao seu redor, fazendo ecoar por todo lugar o som que desesperava Marie. Parou por um instante e olhou para trás. Não via mais a porta de seu apartamento. O caminho estava todo encoberto por uma neblina densa e fria. Não havia mais volta.
Marie precisaria enfrentar seus medos e seguir. Havia apenas uma saída...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

ainda sobre epitáfios...

"Hoson zes, phainou
Meden holos su lupou
Pros oligon esti to zen
To telos ho chronos apaitei"

Epitáfio de Seikilos, o famoso mais antigo exemplo encontrado de uma composição musical completa no mundo ocidental, incluindo notação musical e letra.
Seikilos compôs para sua esposa e gravou em sua lápide. Além da composição, havia a seguinte inscrição:

"Eu sou um túmulo, um ícone. Seikilos me pôs aqui como um símbolo eterno da lembrança imortal."

e enfim, o epitáfio...


Deixemos de lado o protocolo.

Aplausos, por favor!

post mortem...

Hoje fui tomada por pensamentos mórbidos. Entre um cliente e outro, pensei na tão falada vida após a morte: sobre qual seria a minha última indagação, sobre as besteiras (mais?!) que faria se me restasse apenas 1 dia de vida. Ri sozinha várias vezes. Mas o pensamento mais mórbido foi sobre o epitáfio.
Quem, em sã consciência, idealiza seu epitáfio? Eu, oras! (eu disse em sã consciência!) Jô Soares, Rubem Braga, Chico Anysio também - daí já dá pra ter uma idéia...
Bom, o fato é que eu ficaria muito indignada se em uma de minhas incursões post mortem por esse mundo lesse em minha lápide:

Andressa Furtado da Silva
(1975 - 2500)*
Filha amada e mãe exemplar...

Arre! Exemplo de quê?! Que atire a primeira pedra aquele que foi exemplo a ser seguido!
Ai! De onde veio essa pedra? Ui!
Ahá! O senhor aí! Isso mesmo! O senhor de camisa branca! Não adianta torcer o nariz. Pai exemplar, marido zeloso... Para as suas duas famílias!
E a senhora? Tudo bem, não se preocupe... Não vou dizer...
O fato é que a hipocrisia é o câncer da humanidade. Por isso o "FODA-SE" está sempre na ponta da minha língua. Porque eu simplesmente não vivo no "Fantástico Mundo de Bob".

*Sim, eu vou viver bastante. Exatos 525 anos. Aí eu vou morrer e não será de doença ou velhice. Será de tédio!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

o diário...

São lindos os olhos de meu amor. E os lábios, o nariz, a cor da pele... Mas os olhos, ah, os olhos!
Seus olhos me despem, devoram, acariciam... só os olhos...
E sigo sem pensar em outra coisa, sem querer imaginar sua voz ou seu toque, porque os olhos são a única coisa que desejo... Ah, os olhos!
E fico nua para que meu bem me contemple; e me toco para que ele se deleite... Faço tudo isso diante de seus olhos...
Não sei mais viver sem os olhos de meu bem, querido diário. Morreria de imaginar que meu amor pudesse olhar para outra moça!
Por isso arranquei-lhe os olhos... Estão na caixinha vermelha ao lado da cama, de onde nunca mais sairão.

Boa noite, querido diário...

domingo, 4 de novembro de 2007

nitro...

Nitroglicerina é um composto explosivo obtido a partir da reação de nitração da glicerina.
A nitroglicerina é um explosivo extremamente instável (pequenas perturbações podem provocar sua detonação), e ao longo do tempo ela degrada para formas ainda menos estáveis. Por essa razão, é um composto de transporte e manuseio bastante perigosos.”

I like it when he says i'm nitro. I like feeling the heat bursting my thermometer every time i think of him. I just like it.

A música que não me sai da cabeça hoje:

"Na madrugada a vitrola rolando um blues / tocando B.B. King sem parar / eu sinto por dentro uma força vibrando uma luz / a energia que emana de todo prazer..."


sábado, 3 de novembro de 2007

mais que desejo...

"Liberdade é pouco: o que eu quero ainda não tem nome."
(C. Lispector)

Por isso sempre gostei de Clarisse...


a brand new day...

Joguei fora a roupa usada, quebrei o vidro daquele remédio amargo, rasguei as cartas não enviadas, livrei-me dos sonhos velhos e cansados, esqueci os ausentes e omissos.
Com tudo isso, sinto-me mais leve e feliz. Nessa pequena caixa bem guardada em meu peito estão as coisas e pessoas que me fazem sorrir; estão os raios de sol e as borboletas, as tardes ensolaradas com vento e as noites enluaradas onde contaremos estrelas deitados na grama. Estão guardados comigo todos os momentos que ainda estão por vir, porque tudo o que passou não importa mais. Mas... o que foi mesmo que aconteceu? Não sei dizer. Não lembro. Talvez o tempo tenha mudado enquanto eu terminava o livro. Ou algo que valha...
Mas posso afirmar com toda a certeza de minh'alma que sorrir é bom. É medicinal.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

luto...


R
ealmente espero que agora ela esteja entre gérberas e girassóis, e que tenha deixado aqui peso de toda tristeza que pudesse ter guardado no peito...

Descanse em paz, tia...

[em memória de Mitsy]