EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Somos todos poetas...

Assisto em mim a um desdobrar de planos.
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.
Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.

[Murilo Mendes]

2 comentários:

E agora José? disse...

Fiquei um dia inteiro para poder comentar aqui, pensando, e até agora não descobri nada que possa expressar como esse poema é foda. Como não sei se alguém mais vai comentar, e eu não posso deixar esse post passar batido, eu preciso dizer que eu achei ele muito, muito, muito bom. Raspas e restos me interessam, como diria Cazuza, a lepra e o cego, os gritos isolados no coro, auroras que não se levantam. Está aqui um poema que eu queria ter escrito.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Pois é. Sempre gostei dos autores que conseguem ir além do tangível, muito além do que se vê ou se pode tocar. Murilo Mendes faz isso com maestria em seus versos...