EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 5 de abril de 2008

"sim", mesmo quando dizem que "não"...


Com os olhos vermelhos e inchados ela não o encarava. Dizia que não o amava. Dizia que queria ir embora. Pedia para que não a procurasse mais.
Não sabia gostar. Ainda pior: não sabia ser gostada. Estava sempre correndo, fugindo daquela coisa que a imobilizava doce e lentamente. Escorregadia, balbuciou palavras robóticas e sem sentido, parecendo ainda mais louca e descontrolada. Enquanto ele abria o peito e chorava (de dor e raiva) falando de seus sentimentos, ela cantava músicas dentro de sua cabeça para que as palavras e as lágrimas não a afetassem.
Tapou os ouvidos com as mãos e gritou, pedindo que ele fosse embora, que sumisse, que fosse feliz com outra pessoa. No fundo, ela queria que ele a calasse como de costume, com beijos que, entre soluços, sal e línguas, acabavam na cama. E a trégua era instaurada entre os lençóis, depois das palavras brutas. Machucavam-se e depois lambiam as feridas do outro, como animais. Às vezes, achava que acabariam se matando e que seria necessário partir. Tentava, mas da mesma forma que o sonho escapa do controle do sonhador, faltava-lhe a razão necessária para fazer as coisas como pensava que deveriam ser feitas...


Um comentário:

Ricardo Augusto disse...

o.O
Muito bom... já tive relacionamentos assim. Hoje eu corro deles, rs.