EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

vermelho...


Marie estava enlouquecendo. Lançava-se contra as paredes como se pudesse derrubá-las com o impacto. Olhava os hematomas em seus braços e sentia raiva. Rasgou a roupa e olhou-se no espelho, olhando as outras marcas em seu corpo: pela primeira vez sentiu aversão ao sangue que corria, lento e espesso, em suas veias. Sentiu vontade de vomitar.
Queria fugir dali, despir-se daquela pele, daquele que havia sido seu abrigo até então. Aquelas paredes estavam inchando ao seu redor; em breve sufocaria e seria engolida por elas. Nervuras surgiam de todo canto, como as veias que traçavam caminhos indecifráveis e sem destino por todo o corpo. Sentia vontade de fazer a lâmina reduzir a tensão daqueles vasos, como se numa explosão vermelha e quente tudo pudesse se acalmar.
Sentou-se no chão e, entre soluços e suspiros, cantou a música de sua infância. Os olhos injetados aquietaram-se aos poucos, à medida que a respiração voltava ao normal.
O dia havia apenas começado...

2 comentários:

Ricardo Augusto disse...

Profundo... chocante... e o dia havia apenas começado... poxa...

E agora José? disse...

Marie, Marie. Vem aqui. Dorme e acorda comigo.