EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

escapismo...

Eu escrevo sempre em terceira pessoa. "Não são elas, sou eu". Sempre. Em algum momento, há algo borbulhando dentro de mim: uma dor que precisa ser acalentada, um desejo que precisa ser satisfeito, uma revelação.
Hoje há uma dor estranha dentro de mim, uma dor de saudade, uma dor de medo, uma dor de não-sei-o-quê que me incomoda e quase me afoga nesse mar revolto hormonal e cíclico.
Não há lua no céu, as estrelas fugiram. As nuvens parecem tão violentamente entristecidas que despejam toda a raiva do mundo chorando, aos soluços e lampejos. Acabo de notar que voltei a utilizar o escapismo.
Sim, falo de mim. E a chuva que molhou até os ossos ontem não conseguiu lavar essa tristeza. Há dias sinto-me tão terrivelmente só que não dá vontade de viver. É aquela loucura arrebatadora que me aflige por alguns dias. É aquela vontade de sumir, de deixar de ser mãe, filha, amiga, namorada, o que quer que seja, por um ou dois dias. Ou até essa sensação passar. Mas o medo de ficar sozinha é tão aterrador que me leva à cama. O sono vem, não preciso me preocupar.
O único problema é que o sono traz sonhos que nem sempre são bons. E o despertar é brusco, e a cama, vazia.
Postado por Nina

Um comentário:

E agora José? disse...

Se quiser um esconderijo, há bastante espaço aqui no meu peito, no meu coração pra você se perder. Um abrigo e refúgio das tempestades. Embora nem sempre dê para fugir delas, mas mesmo quando os sonhos não são bons depois que se acorda, e a cama estando vazia ou não, há uma presença. Não está no céu da chuva, nem nas lágrimas ou na cama, nem no sonho, nem na fuga. Não há como fugir de si mesmo, e essa presença está aí dentro. Não consigo separar mais o ela e eu, vou ser daqui pra frente, invariavelmente, nós. Respeitando as pessoas, mas com a gente sempre em primeiro lugar.