EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 16 de agosto de 2008

alma imortal...

À medida que abro os olhos e caminho, passo por mentes pequenas, pérfidas, fúteis. Vejo passos temerosos e mentiras esfarrapadas. Vejo gente que se faz infeliz pelo simples prazer de sê-lo. Sinto o cheiro forte do medo apodrecendo as vísceras dos outros. Os vivos são quase-mortos que esqueceram a identidade e vivem à sombra do óbvio.

O homem caminha à beira da sanidade forçada. A normalidade é uma doença incurável. São todos mornos, comuns, iguais. A filosofia foi enterrada e esquecida. A paixão, adormecida.

Sinto os olhares com estranheza quando falo a minha verdade. É minha verdade apenas: a realidade do meu mundo, onírico ou não, pois há dias de sonho e dias em que a realidade fere a carne. E vejo os miseráveis ajoelharem-se cavando os sete palmos das próprias covas, sujando as mãos na terra onde vomitaram infâmias e injúrias. E o ceifador observa, de longe, com um sorriso irônico de dentes tão podres quanto a própria alma.

Não tenho a pretensão de fazer sentido aos outros. Nem de fazer sorrir ou chorar. Desejo apenas ser e sentir o que é meu, o que vem de mim, o que me inunda de dentro para fora. Quero viver ao lado da minha loucura por uma eternidade cuja cronologia foi inventada por mim.

Fui acometida pela "síndrome da imortalidade". Acredito realmente que nunca deixarei esse mundo. Eu vivo, corro, grito, calo, durmo, sofro. Mas morrer, isso nunca! Porque meu corpo vai definhar e apodrecer com a idade avançada que corrói a carne e tudo o que é matéria. Mas minha alma, meus caros, essa é imortal.

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