EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

sobre a falta de razão...

As metamorfoses não são uma dádiva: mudanças exigem causas para gerar consequências. Nada se move ou transforma pela simples beleza da transfiguração.

Esse cientificismo exagerado rouba a harmonia das coisas. Nem sempre há uma explicação lógica para eventos.

Vejamos o amor. O amor é uma confusão-quase-literária, uma desrazão sem limites, um pomar carregado no meio do semi-árido. É uma quase-dor sufocante que nos torna felizes e miseráveis.

Lagartas tornam-se borboletas depois de um período dentro do casulo. Passam de insetos sem atrativos a criaturas sedutoras e coloridas. E a explicação mais atraente para tal evento é a menos racional, a improvável, a mais romântica.

Às vezes, o que está bem diante dos olhos talvez seja exatamente o que se procura e não se acha. Talvez haja mais beleza onde não se espera. Talvez haja mais possibilidades no aparentemente impossível. Talvez haja mais amor naquilo que causa, eventualmente, ranger de dentes. Tudo depende do modo diferente de analisar os mesmos acontecimentos: a verdade não está no que se vê diante dos olhos, mas naquilo que se encontra por trás das coisas, naquilo que está além do que a razão esclarece.

Nós, os doces bárbaros, gostamos da falta de explicação, da ausência de razão, da beleza dos escafandristas marcianos que buscam no fundo dos rios as venusianas ideais.

Um comentário:

E agora José? disse...

A razão é o tabuleiro, mas quem mexe as peças do Universo é o caos.