EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

dádiva

Não te darei versos
porque não sei fazer poesia
sou sem métrica
sem rima
sem rumo
Sou essa matéria amorfa
que moldas com os dedos,
com a ponta da língua
traçando o vale entre as coxas
os montes dos seios
a volta da nuca
a nuca, a nuca, a nuca...
mil vezes a nuca
esse contorno que segue a linha dos ombros
perpassa o pescoço
alcança o queixo
seguindo o rastro da boca bacante.
Darei-te a boca
esconderijo macio
minha taça osculante
misteriosa alcova sombria.
Embebeda-me, fauno
Embriaga-me com o vinho divino,
Deixa-me torpe
arisca, louca
derrama a bebida dos deuses
na taça recôndita de minha boca!


3 comentários:

Jim d. disse...

lindo poema e foto apropriada. parabéns pela escolha

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Obrigada... O poema foi escrito no momento certo, com a inspiração perfeita correndo nas veias, na alma, no peito...

E agora José? disse...

Beautiful picture and poem, as always...