EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

diálogos...

Nem todos os diálogos são como os de "O Banquete", entre Platão e outros filósofos. Há os diálogos de amantes, os mais simples, os mais belos... Diálogos entre pessoas que se encontram (ou reencontram) por acaso, na fila do supermercado, dentro do ônibus ou em comunidades sobre literatura... Diálogos para serem lembrados por toda a vida...


Ela diz: Boa noite.
Ele diz: Boa noite, claro... Onde deixei meus bons modos?
Ela diz: Você vem sempre por aqui?
Ele diz: Mais ou menos há uma semana, se não me engano.
Ela diz: Isso mesmo...
Ele diz: Embora pareça que conheça essa pessoa por mais tempo do que seja possível acreditar.
*

Ele diz: Não adianta ficar envergonhada...
Ela diz: Não adianta tentar me fazer confessar. Até porque você precisaria me torturar...
Ele diz: Isso é um convite?
Ela diz: Pode ser...
Ele diz: Achei que se comportar excluia torturas no primeiro encontro... Mas tudo é negociável...
Ela diz: Exatamente.
*
Ele diz: A culpa é minha, toda minha. Confesso.
Ela diz: Por quê?
Ele diz: Pra você não pensar que não se comportou.
Ela diz: You can't blame me.
Ele diz: Blame beauty and desire.
Ela diz: Desire is such a dangerous thing...
*
Ela diz: It feels good...
Ele diz: So good... Could it feel better?
Ela diz: I have no idea... What could be better than that?
Ele diz: My imagination doesn't let me say.
Ela diz: Your imagination does... your lips don't.
Ele diz: Unfortunately.
Ela diz: That's a shame...
Ele diz: Nem me fale...
*
Ele diz: Você dança muito bem.
Ela diz: Você ainda não viu nada... Eu tenho ritmo.
*
Ele diz: Você é linda demais, doida demais.
*
Ela diz: Estou apaixonada por você, sabia?
Ele diz: Estava duvidando... E sabe o que mais?
Ela diz: O quê?
Ele diz: Eu também. Você está me fazendo pensar em loucuras...
*
Ele diz: Estou com vergonha e medo de escrever sobre o que você me faz sentir.
Ela diz: Por quê?
Ele diz: É. Porque você me faz duvidar de tudo, não estou brincando quando digo que você está abalando meu mundo... Não sei o que sobra depois do terremoto.
Ela diz: A gente só descobre se passear no meio dos escombros depois. Porque aí tem certeza que sobreviveu.
Ele diz: E eu sobrevivo a você? Com doses de morte doce todas as noites?
*

Ela diz: Adorei o que você escreveu...
Ele diz: Só escrevo para alguém quando estou apaixonado.
*
Ela diz: Você fuma?
Ele diz: Não. O meu pulmão é o de um fumante mas não fumo.
Ela diz: O que tem seu pulmão?
Ele diz: Bom, eu tenho várias "ites".
Ela diz: Bronquite?
Ele diz: Sim.
Ela diz: Rinite, sinusite?
Ele diz: Rinite e sinusite por enquanto não.
Ela diz: Eu tenho os dois.
Ele diz: Que gostoso. Então vamos espirrar juntos. Vamos ao supermercado comprar lenços de papel.


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