EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

sábado, 22 de agosto de 2009

Maré


Ela não controlava o tempo. Não poderia desfazer as palavras, desmembrar os fonemas, apagar as tristezas provocadas pelo equívoco de seus pensares. Não eram maus pensamentos, eram apenas desejos travestidos e mal interpretados.
Sua dureza fazia brotar o sal no rosto, inundar as pequenas ilhas verdes perdidas no oceano morno e solitário de versos injustos. Correu de volta para sua razão para segurar-se à margem e retomar o fôlego. Via, de longe, as ilhas irmãs distanciando-se e sumindo, embaçadas pelo vapor que se formava em torno delas, cada vez mais náufragas, tristes, nebulosas. Precisava nadar de volta, retomar seu pequeno barco, sua pequena vida, seu pequeno amor. Precisava enfrentar o mau tempo e o tremor do mar, precisava de coragem. Precisava voltar. Precisava que seu coração voltasse a bater no peito. Precisava perder o medo. Sentia, com toda a força, que a única forma de perder de vez o medo seria deixar-se levar pela maré.


Um comentário:

E agora José? disse...

Você é a minha fortaleza e o meu ponto fraco. A única pessoa que está tão dentro de mim, como uma adaga cravada no meu peito, como um anjo a me carregar nas mãos. E por isso cada suspiro é um vendaval, cada palavra é um grito ecoante, cada beijo é uma noite inteira de prazer.
Você deixa os meus sentidos excitados e cada gozo contigo é como se todos os orgasmos da minha vida, os que eu tive com você, tenho e terei (porque o resto é pó) me visitassem de uma vez só e me enchem com vida e morte.
Nenhuma maré, baixa ou alta, nenhum ciclo vai mudar isso. Porque o que nós temos já é infinito, é para sempre.