EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

sobre mulheres

The pink tunic, 1927 - Tamara de Lempicka

Há mulheres e mulheres. Há as que se tornam musas de poetas e alimentam seus desejos e fantasias diariamente, mesmo quando o convívio parece querer corrompê-los. Mas essas mulheres são fontes de inspiração. Essas almas entendem-se tão ardentemente quanto os corpos, com uma linguagem tão própria deles mesmos que os outros tendem a não compreender.

Essas são as mulheres que, mesmo adormecidas, despertam o desejo e mantêm os amantes em constante vigília, a velar-lhes o sono. Essas mulheres provocam maremotos e aplacam guerras íntimas, interiores. Essas mulheres são a origem do mundo, carregam o céu e o inferno dentro de si. Essas mulheres são grandes, ilimitadas, infinitas. Essas mulheres são feitas de carne e alma. Essas mulheres permanecem.

Quanto àquelas mulheres, aquelas são as cinzas, sem cores, sem calor, frias. Aquelas mulheres são as que deixam a chama apagar, são as que conseguem transformar a inspiração em fardo. Aquelas mulheres são as que não percebem a força que têm, o ventre que têm, a alma que têm. Aliás, aquelas mulheres são sem alma, sem vida, sem sexo. Aquelas mulheres são artificiais. Aquelas mulheres tornam-se passado esquecido. Aquelas mulheres culpam o mundo por seus insucessos. Aquelas mulheres fenecem.

Eu sei meu lugar: sou feita de carne e alma. Eu permaneço.
E você? Você conhece o seu lugar?




Um comentário:

E agora José? disse...

Alguns seres não merecem a alcunha de mulheres. São farsas, não se comparam as terríveis bruxas, Medéias e Górgonas do imaginário. Não são vis nem boas, não são nada. Não são amadas nem odiadas, o lugar dessas coisas é no ostracismo, na escuridão, no vazio, fora, longe, distante.
E não merecem nem que alguém se dê o trabalho de colocá-las em seu lugar, gastar esse mínimo de energia é um desperdício para tais criaturas.
Assim sendo, tudo que elas podem fazer é invejar as musas e os poetas por não poderem conceber, viver, ser ou atrapalhar a poesia dos que amam.