EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 13 de outubro de 2009

insônia - ainda sobre a saudade...


Despi-me de minha camada mal lapidada e diamântica - ah, cansaço de sono tardio e solitário... Fecho os olhos entre pensares e teus suspiros e me reviro em teu suor. A cama é fria e detesto o gosto do sono. Não durmo - repouso apenas. Não que tua paz não me apascente a alma: o pensar de que tudo passará em breve é que me queima o juízo. Por que não posso atar teu corpo à cama e desligar o tempo? Podemos viver aqui para sempre? Podemos morrer aqui? Tem hora para voltarmos ao mundo?
Desligo a tv. Finjo que é noite. Aperto os olhos e passo minha perna por cima da tua. Para, tempo! Para! Maldito relógio de contar segundos regressivamente... Essa coisa estranha me revira o estômago, me enjoa. Será medo ou a bebida da noite passada? Dúvida molhada e sombria. Meus dedos enlaçam os teus e tremem. Meu corpo inteiro chora. Não sei o que tenho. É o alcool ou o contorno que deixarás nos lençóis? É a minha intimidade privada de luz. Será o vazio que a falta da tua presença - ainda não partida - me faz?
Minha insônia é o desassossego de um intervalo seco, de folhas amarelas, de ventos uivantes. Ainda tenho medo de ventos uivantes. É o pó que me cega os olhos e levanta o vestido. É a tempestade que me assombra. É a espera das noites que despertarão eternas em manhãs sem despedidas.
É saudade, apenas.

Um comentário:

E agora José? disse...

Saudade. Por isso temos que lembrar de tudo que passamos e sentimos. Relembrar é reviver e enquanto não nos encontramos novamente, temos a eternidade dos breves e deliciosos dias e noites compartilhados. Eu te amo, nenhuma noite é completa sem você, nenhum dia faz tanto sentindo sem você comigo.

Mas eu ainda caminho e respiro e trabalho e amo, porque me alimento do que construímos e de sonhos.