EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

das horas da morte

Ela estava lenta; lenta e ácida. Desejava morrer novamente - já havia morrido tantas vezes, que o corpo havia acostumado ao martírio dos 5 segundos de morte não planejada repetida exaustivamente e bem aceita dos últimos dias. E sua lápide era pequena demais para o mundo inteiro que precisava ser vomitado, contado, exposto. Estava sendo descascada e a parte de dentro era mais doce que o resto, mais macia, mais pulsante. Aquele mundo de lava dançava em espasmos no salão sem plateia. E a moça vibrava no rosa pálido dos lábios e no vermelho caótico do sexo. Vibrava de estranheza - desconhecia o corpo tão intimamente que conseguia surpreender-se a cada repetição de gestos. E as sílabas (re)cantadas (re)gemidas (re)tocadas dançavam diante dos olhos, feito serpentes - coleantes, enfileiradas, irônicas. Estava suicida, nua e extremamente suicida - calculava a distância - proximidade -, duração do sofrer e tempo do impacto - a sensação quente e a delícia dolorosa que o sangue trazia quando borbulhava dentro dela, em erupção feminina e tortuosa. Intensidade - um bocado de sentidos sem nome que a assolavam em meio à normalidade das horas da morte.

4 comentários:

André disse...

morrer é sempre preciso...

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Engraçado... qdo postei esse texto no facebook, muita gente achou que eu estivesse deprimida e tal... Muito pelo contrário: estou feliz como há muito tempo não sei estar...

André disse...

quando você fala em morte, todos acham que você é suicida rs rs

precisam pensar um pouco mais sobre essa palavra...

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Nem todo mundo está acostumado com as minhas metáforas violentas...rs
Morri e revivi em você esses dias... e como é doce morrer assim...