EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

fundura

Vejo teus olhos e me faço perguntas estúpidas. Pergunto-me que cor eles têm. Pergunto-me que cores tu tens. E nessa de te descobrir, desenho tua boca para contrastar com os olhos - contrastes mais de linhas que de cores. E teu desenho vivo me assombra, me assusta essa porção do dia em que escureço o desejo flamejante e antagônico de terra de fundo de rio, onde derreto e despejo a argila dos meus olhos, minha cor incógnita que te enlouquece o juízo e te derruba e te faz querer o que foi lançado ao mundo. Sou o desconhecido mundo e tu és a cor sem nome que só existe em teus olhos. E tu espumas de raiva em meu útero e me beija a boca para me roubar o fôlego e um pouco da alma. Minha alma de rua te envolve em desapego desespero destemor. E teu medo coragem te lança de encontro ao meu muro meu mundo cimento feito de pele. E tu te fundes e me machuca me incendeia me esfria me abandona depois do gozo. E me perco labiríntica nessa tua imensidão - teus olhos me tragam pro fundo asfixioso dessa cor hipnótica. Cubro teus olhos. Volto à superfície.

2 comentários:

Tuca Zamagna disse...

Cheguei aqui, Nina, depois de consumir toda a pinga e todo o jiló do seu outro blog. Pra ser sincero, foi muito pouco pro meu funil etílico mineiro. Você devia postar mais lá.

No entanto, aqui cheguei bêbado, e quase me afogo nessa fundura toda. Como é liquida e transparente a sua escrita. Já me ponho à espera da continuação de Anaïs... Anaïs Nina!

Abraços

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Bem vindo a esse meu mundo fundo, Tuca!
Nem sabia que aquele outro blog tinha seguidores (pra você ver...)

Minha escrita é transparente, sim. Mais do que gostaria - devo confessar...

Fique à vontade. Puxe uma cadeira e sirva-se do meu veneno... É isso que ofereço nessa casa...

Abraços