EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

domingo, 9 de outubro de 2011

da dor e outras drogas

O relógio gritava uma hora tarde qualquer. Aquelas horas sempre bem vindas da madrugada tiravam-lhe o sono e o juízo. Era engolida por um desejo suicida ordinário, vontades de gargantas arranhadas e desmesuras passionais que se repetiam a cada instante incontável, a cada piscar de olhos, a cada pensamento intrigado e talhado de verdades. E quando aquela castanhura sorridente dos olhos de Josephine suplicava-lhe descanso, outro precipício se abria no meio daquele mundo de ardências e pequenos desesperos indecentes. E da candura de olhos esverdeados surgia uma criatura diferente, bestificada e avassaladora, de pele posta em brasa e semi-sorriso de caninos à mostra. Josephine, petrificada, sentia doer a curva do corpo, uma vergonha que se dissipava com a dor e cedia espaço ao desespero ruborizado que a violação provocava, rogando em prece ácida e ofegante que a morte não chegasse, que o suplício se estendesse vida afora - mar adentro - para que sentisse de verdade o que era a carne. E o inferno a consumia de dentro para fora, como se ele, o demônio, a devorasse pelo avesso. E se olhava nos espelhos dos olhos profundos de Josephine, lugar de memórias de tempo presente, anunciando a morte quente e violenta que colocaria, enfim, um sorriso cretino naquele rosto vermelho de atrocidades de amor. 

3 comentários:

Ná,Naty,Natália... disse...

ahh quanto amor, quanta paixão...e é pra sempre, falo de mim...e demais ninguem!
te amo

dinha ' disse...

vc é excepcionalmente excepcional.

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Vocês me deixam ruborizada.
Náh, te amo, nega!
Eu sempre tô por aqui, mesmo que meio escondidinha... :)