EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

para sorrir boa noite

Teu filho sorri aqui dentro, me dando boa noite. E dorme quietinho junto de mim, ouvindo meu respirar, olhando meus sonhos, sentindo meus medos. E me faz um carinho sem a consciência de "existir", dizendo que tudo vai ficar bem, como se a tua própria voz ganhasse vida em meu útero. É você, simplesmente você eternizando o mundo em mim...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

pequeno bilhete de amor *

Você me dá bom dia com um ressentimento sonolento. Estava tudo dentro de uma agonia feita de sal que tomava conta dos corpos que alternavam insônia e estados de dormência. Estados alternados e desencontrados na noite quente de chuva forte, porque o mundo precisava desaguar suas agruras - alguém precisava fazê-lo. E, feito mar, meu espírito ia e vinha sem parar para ver o tempo adormecido no teu queixo - aquela curva que tanto gosto. Porque nosso tempo corre diferente, ele pára e nós continuamos. Mas o tempo do mundo nos massacra com seus clamores fora de ordem - da nossa ordem de paz. E sou pega no susto vez ou outra, com a sensação de que o mundo pode parar de girar se eu não estiver no comando da embarcação - porque eu preciso lançar tudo ao mar e salvar tudo dele ao mesmo tempo. E vivo cheia de agonias que me consomem mas que fazem parte disso que sou. Desculpe-me, meu amor, não sei viver sem agonias. Gosto das montanhas-russas - ao mesmo tempo que me desgastam, me atiçam o juízo. Só que, no meio de tanta beleza, de tanto amar, de tanto querer sem limite, esqueci de dizer: quero tuas agonias junto das minhas. Teus maremotos. Teus medos. Tuas verborragias fora de hora. Tuas inconstâncias.
Sendo assim, espera-se apenas que o marujo se lance ao mar. E confie.


* que deveria ter sido deixado no travesseiro na manhã de domingo...