EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

quarta-feira, 11 de abril de 2012

fereza

Oferto a ti meus delitos de amar - minha carnificina. A delinquência incontrolável que me prostra aos teus pés, tua cintura. E me farejas sacrifício e rosnas doces brutalidades e glutonices, porque tua fome é o que busca minha carne mercenária. E tu me sentes pronta na ponta de tua língua vibrante, no silêncio ensurdecedor dessas madrugadas ao meio-dia, meia-tarde, meia-noite. Eu te faço engasgar na própria fome, soluçar com a própria saliva enquanto te banqueteias em mim - inteira carne, pele e vísceras. E te farto de peito aberto e coxas escancaradas, borrada de vermelho na imensidão da mesa vazia. E meus olhos suicidas te atiçam o comedimento e te florescem a crueldade que nasce na penúria de quem deseja: espetáculo feroz de tua virilidade. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

instinto

Gosto de algum método. Não de todo ele inscrito pelos ares, porque o método exagerado tende a nos castrar, a nos tornar frios. O instinto é um bom método. A antecipação das coisas. O sentir antes da  materialização dos acontecimentos. O antever. E há quentura no instinto. Há um quê de bonito. Fluidez. Não, não é a ansiedade da véspera: é o pressentir, ter essa sensibilidade e conexão com o que te envolve, com aquilo que te espera, com o que não está exatamente ao teu lado ou ao alcance dos olhos. É acreditar não no que está, mas no que é. É ser, mesmo sem estar. É ser ciente, ser completo, ser presente. 
O instinto é a ousadia de ter fé em si mesmo.