EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

a ti, memória

Há um som que reverbera dentro do corpo. Um grito de memória. Um convite à dança em plena madrugada. Todos os segredos e os muitos nomes das mulheres que me habitam a carne. Porque sou todas essas [aquelas] que dilatam peitos, veias e gargantas. Sou de dilatar mundos, causar tempestades, amores, danos irreversíveis, desejos imundos, saudades loucas. Sou um lugar no tempo passado [presente?]. Uma praga de marcar peles, pelos e reticências, de marcar sílabas. Deixo-me macular pelos pensamentos de tuas vogais em meus ouvidos, pela música que me habita os poros, pelas indecências de cantos de livros - o que seria de nós se não pensássemos palavras sujas? Desfaço-me em ideias absurdas, em fogo líquido, em rosnares-grunhidos-arfares-poemas. Sou toda pecados. Sou não-esquecimentos. E tu, memória, és castigo. És desfiladeiro carmim repleto de cheiros. Tu, memória, carrega minhas vísceras em tuas mãos e te banqueteias com o que há no avesso de mim. Tu balbucias meus nomes entre teus dentes sujos de sangue, tuas unhas ferozes de amor. Dedico a ti, memória, meus risos, minha infâmia, meu choro.
 
Sou inteira saudades.

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