EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

sobre as pulsações do medo

Apavora-me o monstro que sou quando sinto medo. Amedontra-me o ódio que dizes sabotar o desejo. Espanta-me a intermitência negra da neve que me cobre os olhos, que me repele e me mantém fundida à lava que me transborda. Medo dos dias gris que cobrem nossos rios e nos afogam em parcimônia, quando queremos maresia e turbulência. Medo das calmarias e das multidões que atropelam mundos. Da morte rasa - porque a morte precisa ser lenta e profunda. Da minha própria maldade. Das rouquidões contidas, da falta de voz. Do grito. De estar quando preciso ser. De ser quando só devo estar. Das praças vazias. Dos bancos de ônibus. Da distância. De muros com cacos de vidro. Do gosto que tem tua pele. Dos medos que não sentimos quando queremos morrer. Dos meus detalhes em tua boca. Do teu saber-me tua, infinitamente. Do infinito. Medo das intermitências do medo. Das pulsações loucas que piscam as luzes do caminho. De mim. Do teu pulso. Do teu medo da minha raiva. Da minha candura. Da obscuridade das minhas lacunas em teus lábios bonitos.
 

3 comentários:

Mandaricks disse...

Sempre uma delícia. Sempre parece que aconteceu comigo.

Nathalia Lima - Nlim* disse...

Uau! Gostei muito. Parabéns

Nathalia Lima

http://anathalialima.blogspot.com.br/

I'm Nina, Marie, etc... disse...

Obrigada, Nathalia!
Como faço pra seguir seu blog?
Não achei lá. :)