EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

dos infernos que nos beijam em manhãs nubladas

Por trás daquela neblina que cobre o verde dos morros nesta estranheza matinal há um silêncio revelador. Revela-me as coisas que não quero saber - minhas cegueiras propositais. Finjo-me inconsciente, ignorante, anestesiada. Beijam-me infernos minha fronte vermelha do sol que ainda não veio ao mundo. Toco fantasias e loucuras em notas lamuriosas no menor violino já visto. Ensino-te aquela dança - e tens dois pés esquerdos. Não te prendo porque não sou real. Sou uma projeção intermitente de teus medos e desejos, feito manhãs nubladas que se arreganham em sol. É azul este teu céu? É real teu falar de homem maduro? Sou teus pensamentos sombrios de amor. Tu não sabes se existo, mas me amas em silêncio. Tu me amas só pra ti, em tua cabeça racional e teu peito dilacerado. Sabes a profundidade de meus olhos e meus cheiros através de teus sentidos imaginários - adivinhação. Por isso lambo teus infernos - sou os dez infernos escondidos atrás daquela árvore grande. E refugio minha insanidade na tua - mas de que jeito se de fato não existo? Sou a linha tênue entre tua saliva e a carne que te faz salivar. Sou nós dois. Sou tuas mazelas. Tuas intrigas. Teu desespero. Tua rigidez. O gozo. Teu desejo mundano.
Sou nós dois. E existimos apenas dentro de ti.

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