EGO

"Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes
que aqui caleidoscopicamente registro."

(Clarice Lispector)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

untitled

i see myself melting into a dark river of lust and poetry
as my tongue dances around like a thousand crows
and my soul gets darkened by your misty eyes
going round and round my skin
while the abyss - the sweet rotten abyss - spoils broken rhymes
so that whispers, vows and promises become necessarily unspoken
as the day dies into your lovely lips
as love fades like dust in your weirdest dreams
and i fall from an unknow sky to reach our private hell
and to grab your entrails
to devour your will
your power
your words
and make them all mine
to find death
and in death
find that i am alive.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

dos infernos que nos beijam em manhãs nubladas

Por trás daquela neblina que cobre o verde dos morros nesta estranheza matinal há um silêncio revelador. Revela-me as coisas que não quero saber - minhas cegueiras propositais. Finjo-me inconsciente, ignorante, anestesiada. Beijam-me infernos minha fronte vermelha do sol que ainda não veio ao mundo. Toco fantasias e loucuras em notas lamuriosas no menor violino já visto. Ensino-te aquela dança - e tens dois pés esquerdos. Não te prendo porque não sou real. Sou uma projeção intermitente de teus medos e desejos, feito manhãs nubladas que se arreganham em sol. É azul este teu céu? É real teu falar de homem maduro? Sou teus pensamentos sombrios de amor. Tu não sabes se existo, mas me amas em silêncio. Tu me amas só pra ti, em tua cabeça racional e teu peito dilacerado. Sabes a profundidade de meus olhos e meus cheiros através de teus sentidos imaginários - adivinhação. Por isso lambo teus infernos - sou os dez infernos escondidos atrás daquela árvore grande. E refugio minha insanidade na tua - mas de que jeito se de fato não existo? Sou a linha tênue entre tua saliva e a carne que te faz salivar. Sou nós dois. Sou tuas mazelas. Tuas intrigas. Teu desespero. Tua rigidez. O gozo. Teu desejo mundano.
Sou nós dois. E existimos apenas dentro de ti.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

dos mistérios que guardam os seios

por dentro deste par indecifrável de delícias
sinto o surdo dar ritmo aos desejos que sente a carne
tua ânsia de que revele um pouco mais da pele
do colo que se anuncia antes da nudez
- porque me sabes nua antes que meus pés toquem o chão frio -
e mesmo que deslize mistérios em tua direção
tua virilidade me assalta
antes do tempo
e o tempo suspende a respiração
e o resto ao redor do mundo
ouves apenas o bater do surdo
trovões a me invadir o peito
e sentes nas palmas de tuas mãos - por baixo da pele macia
a tempestade que se forma aqui dentro
quando tuas mãos grandes me [des]cobrem os seios
e então não há mais segredos - talvez um punhado de mistérios
que tentas absorver com a boca quente no meio desse monte
- ora marmóreo, ora dourado -
cobrindo perfeitamente o ponto rosado que sorri pra ti
tragando inteiros alma e pensamentos e calores
eletrificando outro ponto ao sul - origem do mundo -
onde desaguam os desejos.


sábado, 2 de fevereiro de 2013

do ódio

De repente sinto ódio. Ódio de coisas, de gente, de momentos que não posso apagar. Ódio de me sentir impotente. Ódio de estar onde estou. Um ódio tão imenso, tão desfigurante, que mal me reconheço diante do espelho. Quero que o mundo acabe e recomece. Que todo este mal seja extirpado, feito ervas ruins e vícios. Quero enviar o que me causa repulsa pro inferno. Quero distância de julgamentos tortos e infâmias. Quero só meu sossego de volta, os dias azuis, as flores na janela, os poemas bonitos. Tudo o que me fazia sorrir.
Agora o que sinto é que preciso me reencontrar por dentro. Mapear o que de fato é minha essência. Mudar minha casa de lugar. Ser duas, três, um exército. Há como não perder a ternura? 
Não sei se há como não perder a ternura.